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CEFET-MG

Projeto pioneiro para a reciclagem de veículos é implantado pelo CEFET-MG

Quinta-feira, 17 de setembro de 2015
Última modificação: Sexta-feira, 17 de julho de 2020

carO pioneirismo do CEFET-MG na área de reciclagem automotiva está próximo de se concretizar. A Instituição apresentou para alunos, servidores e comunidade externa, no mês de abril, o projeto de construção de uma usina de reciclagem de veículos no Campus II (Unidade Belo Horizonte). A apresentação fez parte do 1º Simpósio sobre Reciclagem Automotiva, que contou com palestras com representantes de organizações japonesas, parceiras no projeto e professores do CEFET-MG.

O projeto de extensão de reciclagem automotiva é uma iniciativa do professor Daniel Enrique Castro, do Departamento de Engenharia Mecânica, e desenvolvido junto às Diretorias de Extensão e Desenvolvimento Comunitário e Pesquisa e Pós-Graduação, com o apoio da Direção Geral. O acordo teve início com a celebração da parceria entre o CEFET-MG, a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) e a empresa Kaiho Sangyo, no 2º semestre de 2014, com a assinatura de um Termo de Execução de Projeto, na cidade de Kanazawa, no Japão. Estiveram presentes o diretor-geral do CEFET-MG, Márcio Silva Basílio, o diretor de Extensão e Desenvolvimento Comunitário, Eduardo Henrique da Rocha Coppoli, o diretor adjunto de Pesquisa e Pós-Graduação, Patterson Patrício de Souza, e o professor Daniel Enrique Castro, que coordena o projeto.

Captura de Tela (845)Da esquerda para a direita: Professor Daniel Enrique Castro (Coordenador do projeto), Dr. Taku Ishimaru (representante sênior da JICA Brasil), professor Márcio Silva Basílio (Diretor-geral do CEFET-MG), professor José Gomes da Silva (Diretor do Campus II – Unidade Belo Horizonte), Dr. Katsuya Baji (representante da empresa japonesa Kaiho Sangyo).

Além da construção de uma planta-piloto de reciclagem, a iniciativa prevê um Centro de Treinamento para a comunidade externa e a participação de diversos departamentos do CEFET-MG. Segundo o professor Márcio Basílio, o projeto “vai e precisa envolver toda a Instituição”. A proposta é que alunos dos diversos cursos do CEFET-MG possam atuar na adaptação das novas tecnologias e desenvolver trabalhos, como iniciações científicas, dissertações e teses.

Daniel Castro concorda e lembra que o projeto já traz resultados concretos. “A partir desse projeto inicial, estou orientando trabalhos de pesquisa no mestrado em Engenharia de Energia, que analisam a reciclagem de cobre, aço e plásticos. Também há trabalhos da graduação em Engenharia Mecânica que pesquisam prensas mais eficientes, voltados para o processo de reciclagem de veículos; e pesquisas sobre reciclagem de baterias”, enumera o professor.

A usina de reciclagem vai abrigar também um Centro de Treinamento, de forma que a tecnologia transferida do Japão para o CEFET-MG possa se difundir para outros profissionais e indústrias. No Simpósio, estavam presentes representantes de indústrias e interessados no assunto. Eles puderam assistir a palestras sobre tecnologias de reciclagem automotiva, a atuação da JICA e a Nascente, incubadora de empresas do CEFET-MG.

Meio ambiente

A produção de veículos no Brasil está em franco crescimento. Em uma década – de 2000 a 2010 – a produção duplicou, aumentando, consequentemente, a frota em circulação. Hoje, já temos mais de 48 milhões de automóveis,
segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).

O professor Daniel Enrique Castro lembra essa situação para reafirmar a importância de um projeto pioneiro na reciclagem automotiva. “Um veículo é muito valioso. A indústria automobilística reúne grandes investimentos e faz uso de matérias-primas essenciais”.

Daniel conta que a reciclagem de veículos é realizada em cinco etapas: recepção dos veículos, desmontagem, classificação dos componentes desmontados, fragmentação e reciclagem dos materiais fragmentados. O objetivo da tecnologia japonesa é reaproveitar tudo que um veículo pode oferecer, diferente, por exemplo, do que é feito nos Estados Unidos, em que todos os componentes são triturados. O Japão, que possui uma frota de 80 milhões de automóveis, consegue reaproveitar 95% de um veículo.

“A reciclagem tem um ganho significativo. 60% do peso de um veículo é composto de aço, material totalmente reciclável e para o qual já temos no Brasil uma siderurgia preparada para recebê-lo. O trabalho seria apenas desmanchar adequadamente e já conseguiríamos poupar mais de 50% da energia elétrica gasta para fazer aço, além de não ser necessário extrair minério para isso”, explica Daniel. Processo similar poderia acontecer com o cobre e outros componentes do veículo.

Além destes, o processo de reciclagem realizado pela japonesa Kaiho Sangyo, com a qual o CEFET-MG firmou a parceria, reaproveita componentes do veículo para criação de novos produtos. Até mesmo os bancos dos veículos podem ser usados como matéria-prima para cadeiras de escritório.

O fortalecimento de uma indústria de reciclagem no Japão – algo que eles chamam de indústria venosa, frente a uma
indústria arterial, aquela que polui – não se deu por acaso. Katsuya Baji, representante da empresa Kaiho Sangyo, explica que o poder público é fundamental no desenvolvimento e fortalecimento de atividades como essa. “Nossa atividade parte da análise da legislação. Um pensamento importante que rege a filosofia da empresa é que o Japão produz muitos carros e precisamos nos conscientizar sobre isso”.

Daniel Castro explica que desde 2000 o Japão vem sancionando uma série de leis de reciclagem que regulam diversas atividades industriais. “Até mesmo edifícios são reciclados. Se você derrubar um edifício, tem que construir outro com os materiais que podem ser reaproveitados”. A reciclagem de veículos foi a última a ser regulada, em 2005. “A lógica disso é simples: se o volume de veículos que circula aumenta muito, é imprescindível ter uma reciclagem sistêmica da frota no final de sua vida útil”.

Um dos desafios, concordaram os participantes do Simpósio, é a adaptação da tecnologia e do processo japonês à realidade brasileira. O país não possui legislação específica para a reciclagem de veículos, fato que também está sendo estudado no projeto coordenado pelo CEFET-MG. A visita de autoridades japonesas deu origem ainda a um encontro com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais para apresentação e obtenção de apoio ao projeto. De acordo com Taku Ishimaru, representante da JICA, “esse projeto é algo totalmente novo no Brasil. A JICA vai aprofundar o diálogo com as autoridades brasileiras”.

Cronograma

O simpósio de Reciclagem Automotiva deu início à primeira fase do projeto, que, segundo o professor Daniel Castro, “visa criar uma planta piloto de reciclagem de veículos associada a um instituto tecnológico dedicado ao desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias que alicercem a criação e o desenvolvimento da indústria venosa no Brasil”. Em um primeiro momento, o objetivo é fortalecer o projeto internamente no CEFET-MG, até que a usina de reciclagem seja certificada pela Kaiho Sangyo como local de treinamento. Em seguida, planeja-se oferecer treinamento e multiplicar essas plantas em todo Brasil.

O projeto se inicia em outubro de 2015, com a organização do espaço físico e análise inicial junto com a Kaiho Sangyo. A expectativa é que os japoneses visitem a Unidade de dois em dois meses. Em março de 2016, estão previstos a montagem de equipamentos e o treinamento no Japão da mão de obra que vai operar a usina. O processo de reciclagem de veículos em si começa em dezembro de 2016, com o início da operação e criação de cursos-tema. A última etapa, a ser finalizada em agosto de 2017, prevê a documentação e certificação da unidade de reciclagem do CEFET-MG, atestando que ela está de acordo com o padrão japonês. A partir desse momento, a Instituição vai poder certificar outras unidades semelhantes.

Esse último ponto é um dos principais abordados no projeto. A iniciativa não vai ficar apenas dentro do CEFET-MG mas, com o Centro de Treinamento funcionando, espera-se abrir as portas do Campus II para indústrias, representantes do governo e interessados em criar seus próprios centros de reciclagem.

Para o professor Márcio Basílio, o projeto vai possibilitar que a comunidade entenda o que está sendo feito no CEFET-MG e possa também utilizar essa tecnologia. “Há um papel de reinserção social da tecnologia, para que o país possa se desenvolver de forma ambientalmente correta”, encerra.

Captura de Tela (847)
Fonte: Revista Extensão & Comunidade, 2015.